quarta-feira, 7 de julho de 2010

Honestidade que nos devolva a liberdade

Ser honesto é algo que não faz parte da classe política actual, a tal classe que promete só para granjear votos de poder… um poder que abriu portas à construção de sociedades assentes sobre quatros pilares: consumismo, oportunismo, competição e corrupção levados aos extremos.

Classe política que abriu portas ao roubo de algumas conquistas sociais justas, que põe todos no mesmo saco, e à semelhança dos campos de concentração, com requintes de modernice, nos suga e chicoteia, à semelhança dos carrascos desses outros campos de concentração.

O pior de tudo é que no actual meio social, não humano, existe muita gente a imitar esta classe política, e por tal razão, passamos a observar a globalização da exploração do homem pelo homem, sendo o mais forte a aniquilar aquele que supostamente é mais fraco.

Mas, no mundo dos humanos ainda existem histórias que, acreditamos serem reais, nos fazem sentir mais humanos e nos fazem acreditar que um dia voltaremos a ser felizes, sendo honestos…

A história que se segue fala de uma honestidade fantástica, contada por Vladimir, jovem prisioneiro de um campo de concentração.

Vladimir tinha um companheiro de prisão chamado Andrey.
Ambos sabiam que daquele lugar poucos saíam com vida, pois o alimento que se dava aos prisioneiros políticos não tinham por objetivo mantê-los vivos por muito tempo.
A taxa de mortalidade era extremamente alta, graças ao regime de fome e aos trabalhos forçados. E como é natural, os prisioneiros, em sua maioria, roubavam tudo quanto lhes caía nas mãos.

Vladimir tinha, numa pequena caixa, alguns biscoitos, um pouco de manteiga e açúcar – coisas que sua mãe lhe havia mandado clandestinamente, de quase três mil quilômetros de distância. Guardava aqueles alimentos para quando a fome se tornasse insuportável. E como a caixa não tinha chave, ele a levava sempre consigo.

Certo dia, Vladimir foi despachado para um trabalho temporário em outro campo. E porque não sabia o que fazer com a caixa, Andrey lhe disse: deixe-a comigo, que eu a guardo. Pode estar certo de que ficará a salvo comigo.
No dia seguinte da sua partida, uma tempestade de neve que durou três dias tornou intransitáveis todos os caminhos, impossibilitando o transporte de provisões. Vladimir sabia que no campo de concentração em que ficara Andrey, as coisas deviam andar muito mal. Só dez dias depois os caminhos foram reabertos e Vladimir retornou ao campo.

Chegou à noite, quando todos já haviam voltado do trabalho, mas não viu Andrey entre os demais. Dirigiu-se ao capataz e lhe perguntou:
- Onde está Andrey?
- Enterrado numa cova enorme junto com outros tantos prisioneiros – respondeu ele. Mas antes de morrer pediu-me que guardasse isto para você.

Vladimir sentiu um forte aperto no coração.
- Nem minha manteiga nem os biscoitos puderam salvá-lo, pensou.

Abriu a caixa e, dentro dela, ao lado dos alimentos intactos, encontrou um bilhete dizendo:

“Prezado Vladimir. Escrevo enquanto ainda posso mexer a mão. Não sei se viverei até você voltar, porque estou horrivelmente debilitado. Se eu morrer, avise a minha mulher e meus filhos. Você sabe o endereço. Deixo as suas coisas com o capataz. Espero que as receba intactas.”

Ser honesto é dever que cabe a toda criatura que tem por meta a felicidade.
E a fidelidade é uma das virtudes que liberta o ser e o eleva na direcção da luz.
Uma amizade sólida e duradoura só se constrói com fidelidade e honestidade recíprocas. Somente as pessoas honestas e fiéis possuem a grandeza de alma dos que já se contam entre os espíritos verdadeiramente livres.

Manuel Coelho

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