quarta-feira, 28 de julho de 2010

Timor: as razões do Golpe de Estado de 2006

Quando, em 28 de Novembro de 1992, ouvi as respostas de Xanana Gusmão na entrevista que lhe estava a ser feita na cadeia pelo governador de Timor nomeado pela Indonésia, não tive dúvidas de que tinha traído a sua luta anterior, os seus ideais, os seus companheiros da guerrilha. Apesar da pouca informação disponível, foi isso mesmo que escrevi no Jornal do Fundão seguinte, em 4 de Dezembro: “e não há que escamotear a questão: um lutador, um resistente durante 17 anos, no fim meia dúzia de dias nas mãos de torcionários, não resistiu e assumiu o papel de renegado”.
A informação que havia sobre Timor era escassa e as notícias davam a prisão como uma vitória da ditadura de Suharto. Pensei que fora mais um caso infelizmente semelhante tantos outros. Incapaz de resistir à tortura, Xanana Gusmão, o até então líder da resistência armada timorense, passara-se de armas e bagagens para o lado do até aí seu inimigo. Por isso escrevi que “a sua [de Xanana] traição não é um crime menor do regime de torcionários de Suharto – pela violência mais brutal, desrespeitando os direitos mais elementares do Homem, transformá-lo ali, à nossa frente, num renegado, é um crime sem perdão”.
Enganei-me.
Mais tarde, noticiou-se que Xanana não fora preso mas desertara, que já antes da simulação da prisão passava semanas seguidas em casa de familiares em Dili, a negociar com os representantes da Indonésia em Timor, a sua vida futura. As suas condições na prisão, cumulado de mordomias e com um regime prisional inimaginável para um preso político, quanto mais para um guerrilheiro, tornaram ilegítimas quaisquer dúvidas.
Apesar do profundo golpe sofrido, a Fretilin e o povo timorense continuaram a sua luta, sempre ignorada pelos media, contra a ocupação Indonésia.
Se o massacre de Santa Cruz em 12 de Novembro de 1991 catapultou a luta do povo timorense para as primeiras páginas dos jornais, os heróis promovidos foram Xanana e Ramos Horta, ambos ausentes de Timor.

Ramos Horta, mais polido, sem o discurso sonolento e embrulhado de Xanana, sempre se moveu muito bem junto dos lobbys norte-americanos e mostrou saber conviver com o poder australiano. Daí não surpreender, nas negociações sobre o petróleo com a Austrália, a sua persistência na apresentação de três propostas todas elas “do agrado Howard Downer [Primeiro-Ministro australiano], mas cujo resultado era a diminuição dos recebimentos para o seu país”. (1)

Se em 2006 Timor recebeu já alguns milhões de dólares, proveniente de petróleo que havia sido explorado pela Austrália, a partir de 2007 os montantes vão crescer de forma considerável.

Enquanto o governo da Fretilin presidido por Mari Alkatiri tinha aprovado bases rigorosas, unanimemente reconhecidas como a melhor prática internacional e um meio transparente para a gestão das receitas nacionais do petróleo, Xanana Gusmão já em 2006 propunha “acabar(-se) com o controlo na utilização dos recebimentos do petróleo”.

Mas este golpe iniciado com o apoio de Xanana ao golpista Alfredo Reinaldo e a exigência do pedido de demissão do Primeiro-Ministro Mari Alkatiri, logo secundado por Ramos Horta, então ministro dos Negócios Estrangeiros, não seria possível sem o apoio claro da Austrália.

Em 9 de Junho de 2006, Howard, Primeiro-Ministro da Austrália, começou por afirmar, numa clara e inadmissível ingerência nos assuntos internos de Timor que o problema era uma “governabilidade pobre”.
Dois dias depois, a 11 de Junho, interrogado sobre o que pensava a Austrália fazer respondeu: ”Estamos num caminho difícil de percorrer. Por um lado queremos ajudar, somos o poder regional, estamos em posição de fazê-lo. Temos a responsabilidade de ajudar, mas quero respeitar a independência dos timorenses. Por outro lado, eles devem desempenhar essa independência ou assumir a responsabilidade dessa independência com mais eficácia do que a têm tido nos últimos anos”…

A sintonia entre o tandem Xanana-Horta e o governo australiano era tão perfeita que Ramos Horta, então ministro dos Negócios Estrangeiros do governo presidido por Mari Alkatiri, à saída da inconclusiva reunião do Conselho de Estado em plena crise, logo completou a insinuação e o desejo do Primeiro–Ministro Australiano: “ o que agora é necessário é uma solução da actual crise política, o que implica, obviamente, que o Primeiro-Ministro vá no sentido que muita gente quer e se demita”.
Mas se Ramos Horta sabia o que fazia e dizia, Xanana apresentava provas de correr por conta alheia, chegando ao ponto de permitir, numa manifestação clara de que sabia quem mandava, que a mulher, uma australiana sem qualquer cargo em Timor, fosse à rádio nacional fazer uma declaração patética em seu nome!
A 26 de Junho, 15 dias depois da declaração da ingerência, Mari Alkatiri sai do governo, não sem antes denunciar que estava em curso um golpe de estado, o que agora se pretende consumar com o afastamento da Fretilin de todos os cargos de Estado, ao arrepio das regras constitucionais.

Ramos Horta, ao afastar inconstitucionalmente a Fretilin da indigitação do Primeiro-Ministro, que “avançou desde início com um Governo de Grande Inclusão”, como ele próprio havia proposto após as eleições, pretende concluir o golpe de estado iniciado há ano e meio, e dar início a um ciclo de independência tutelada, em subordinação ao “poder regional”.
(1) Tim Anderson, Professor de Política Económica da Universidade de Sydney, Independência: Eleições em Timor Leste, in Sinpermiso
José Paulo Gascão

Fonte: ODiario.info

quarta-feira, 21 de julho de 2010

O que mais me preocupa é o silêncio dos bons



Diz-se por todo o lado e escreve-se, que a tristeza invade a mentalidade dos portugueses.

Povos mal tratados, resultam em gente triste e sem esperança.
Os portugueses tem sido maltratados pela classe política dominante, notando-se muito nos últimos anos. Basta nos compararmos com os povos das nações mais prósperas da Europa, para chegarmos a essa triste conclusão.

Sabemos que temos potencialidade humanas e técnicas, mas continuamos a ser menosprezados pelos da “nossa casa”.
Muitos são os casos de portugueses com valor, que só se viram valorizados fora de Portugal.

Não é honroso para o país constatar esta realidade. Estranho é, depois, divulgaram em programas “de sucesso” os casos daqueles que tiveram de sair do seu próprio país para se sentirem gente, e serem reconhecidos...

A vocação política já não cumpre os seus objectivos essenciais. Algo se adulterou.
Servir o povo e os seus interesses humanos e económicos, já não faz parte da agenda política, a qual parece servir somente objectivos curriculares para altos voos de interesse meramente pessoal.

Construir ambientes urbanos que contribuam para o bem-estar psicológico e a qualidade de vida das pessoas, parece não ser um assunto de grande importância.

Fazem-se leis vampirescas, para sugar o pouco que ainda nos resta, mas não se fazem leis que nos facilitem uma vida de qualidade ambiental, que evite a propagação de doenças depressivas, provocadas pelo desprezo a que somos submetidos.

Sabe-se que o ambiente urbano influencia o estado de espírito das pessoas. O que se tem feito para melhorar o ambiente urbano? Utilizar os espaços para implementar uma ética de simplicidade urbanista, onde predomine a beleza dos pequenos jardins e das árvores e as casas deixem de ser caixotes de armazenamento de pessoas, é assunto que parece não interessar aos detentores do poder. Leis para proteger a sanidade mental das populações, onde estão?

Não é boa atitude defender a má conduta de alguns grupos sociais, pelo contrário, devemos estar atentos a fim de dizer algo sobre a deterioração mental que se propaga em todos os níveis da nossa sociedade. Muitos destes grupos sociais desestabilizadores, vivem em bairros degradados, e em caixotes de armazenamento de pessoas.

Sabe-se que as condições de vida, podem mudar o comportamento das pessoas e interagir no seu foro psicológico, provocando mudanças de comportamento.

Quem tem o poder muito pode fazer para mudar o rumo do barco, à beira do abismo, pois além da deterioração do comportamento das pessoas, vemos acelerar a deterioração da economia pessoal.

Urge mudar de atitudes, cada um cuidar da sua saúde mental, se for capaz, procurar informar-se e libertar-se da ignorância induzida, livrar-se do lixo psicológico que foi depositado na mentalidade e nos hábitos de vida colectivos.

Como disse Martin Luther King:
“O que me incomoda não é o grito dos violentos, nem dos corruptos, nem dos desonestos, nem dos sem carácter, nem dos sem ética, o que mais me preocupa é o silêncio dos bons”.
Albano Tomas

A Obesidade Mental


O prof. Andrew Oitke publicou o seu polémico livro «Mental Obesity», que revolucionou os campos da educação, jornalismo e relações sociais em geral.

Nessa obra, o catedrático de Antropologia em Harvard introduziu o conceito em epígrafe para descrever o que considerava o pior problema da sociedade moderna.

«Há apenas algumas décadas, a Humanidade tomou consciência dos perigos do excesso de gordura física por uma alimentação desregrada.

Está na altura de se notar que os nossos abusos no campo da informação e conhecimento estão a criar problemas tão ou mais sérios que esses
Segundo o autor, «a nossa sociedade está mais atafulhada de preconceitos que de proteínas, mais intoxicada de lugares-comuns que de hidratos de carbono.
As pessoas viciaram-se em estereótipos, juízos apressados, pensamentos tacanhos, condenações precipitadas.

Todos têm opinião sobre tudo, mas não conhecem nada.

Os cozinheiros desta magna "fast food" intelectual são os jornalistas e comentadores, os editores da informação e filósofos, os romancistas e realizadores de cinema.

Os telejornais e telenovelas são os hamburgers do espírito, as revistas e romances são os donuts da imaginação

O problema central está na família e na escola.
«Qualquer pai responsável sabe que os seus filhos ficarão doentes se comerem apenas doces e chocolate.
Não se entende, então, como é que tantos educadores aceitam que a dieta mental das crianças seja composta por desenhos animados, videojogos e telenovelas.
Com uma "alimentação intelectual" tão carregada de adrenalina, romance, violência e emoção, é normal que esses jovens nunca consigam depois uma vida saudável e equilibrada

Um dos capítulos mais polémicos e contundentes da obra, intitulado "Os Abutres", afirma:
«O jornalista alimenta-se hoje quase exclusivamente de cadáveres de reputações, de detritos de escândalos, de restos mortais das realizações humanas.
A imprensa deixou há muito de informar, para apenas seduzir, agredir e manipular.
»

O texto descreve como os repórteres se desinteressam da realidade fervilhante, para se centrarem apenas no lado polémico e chocante.
«Só a parte morta e apodrecida da realidade é que chega aos jornais

Outros casos referidos criaram uma celeuma que perdura.

«O conhecimento das pessoas aumentou, mas é feito de banalidades.
Todos sabem que Kennedy foi assassinado, mas não sabem quem foi Kennedy.
Todos dizem que a Capela Sistina tem tecto, mas ninguém suspeita para que é que ela serve.
Todos acham que Saddam é mau e Mandella é bom, mas nem desconfiam porquê.
Todos conhecem que Pitágoras tem um teorema, mas ignoram o que é um cateto
».
As conclusões do tratado, já clássico, são arrasadoras.
«Não admira que, no meio da prosperidade e abundância, as grandes realizações do espírito humano estejam em decadência.

A família é contestada, a tradição esquecida, a religião abandonada, a cultura banalizou-se, o folclore entrou em queda, a arte é fútil, paradoxal ou doentia.

Floresce a pornografia, o cabotinismo, a imitação, a sensaboria, o egoísmo.

Não se trata de uma decadência, uma «idade das trevas» ou o fim da civilização, como tantos apregoam.
É só uma questão de obesidade.
O homem moderno está adiposo no raciocínio, gostos e sentimentos.
O mundo não precisa de reformas, desenvolvimento, progressos.
Precisa sobretudo de dieta mental

César das Neves

sábado, 17 de julho de 2010

Em nossas vidas mais privadas e subjectivas, somos os artífices da nossa época...


Tempos difíceis, saturados da continuação dos mesmos erros e atitudes, fecho de um ciclo de uma velha civilização que nada aprendeu e que nunca tirou as palas dos olhos...

Tempos de mudança, inevitável... cheios de esperança e certeza de uma nova mentalidade, aberta para uma nova civilização, que não irá repetir os erros trágicos do passado e que olha para o mundo e vê todas as possibilidades de caminharmos bem e de cabeça levantada.

É a Natureza, vítima da mentalidade predadora do velho Homem, que nos assinala essa mudança.

A velha época humana está em decadência, mas a Natureza, renasce fulgurante após cada acto de violência provocado pela mão do Homem, velho e decadente, sem princípios éticos e sem noção do compromisso.

A linha de transição está à vista. A luz da evolução que foi banida pelo próprio homem egoísta e descomprometido, retorna poderosa, sem nada que a detenha.

Esta força, este movimento da Natureza, parece espontâneo e fácil, qual explosão natural das forças latentes sufocadas e violadas durante séculos e milénios, pela ignorância e egoísmo do velho Homem, falso, mentiroso, egoísta, sem noção de compromisso (nem consigo próprio quanto mais com o outro), desconfortável e incomodado perante o ressurgir do novo Homem, de nova mentalidade. O qual, surgindo das novas exigências do tempo que chega, não cria condições para usar, abusar e prejudicar o outro, pois por mais pequeno que o outro seja, fará sempre parte do todo e da harmonia que urge instalar-se.

O velho Homem, derruba os mais fracos, porque se julga dono e senhor de tudo, mas é cobarde perante os mais fortes e rasteja em segredo nos submundos da mentira e da promiscuidade humana só para se manter acima de tudo e de todos e convencer os outros de que é uma pessoa respeitável e respeitada.

O Novo Homem é o oposto, absolutamente, abraça o bem da comunidade, porque sabe que todos são parte do todo e não podem haver excluídos nem marginalizados, se um sofre, toda a comunidade é afectada, ainda que não pareça. Fala a verdade e não se mistura nos mundos complicados da mentira.
O novo Homem, sabe que:
  • ninguém é menos essencial, ou menos importante, pois há uma interdependencia total;
  • cada pessoa é autónoma e livre, porém, interdependente do bem comum. Sabe que a liberdade e a determinação tornam-se factores relativos quando o seu efeito provoca a destruição e o sofrimento de uma parte desse todo;
  • cada pessoa é responsável e co-criadora da sua evolução e da evolução da sociedade e do meio ambiente.

É certo que a Natureza está-se auto-organizando dinamicamente, adaptando-se a uma nova civilização que já se avista, mas o velho Homem, continua preso aos sistemas antigos e bolorentos da exploração do homem pelo homem, da mentira e hipocrisia, da desigualdade extrema... e a tudo o mais que alguns de nós já sentimos duramente na pele, no passado ou no presente, devido ao egoísmo e insensibilidade do outro, e quantas vezes até, ao egoísmo e insensibilidade proveniente daqueles que muitas vezes nos dizem amar... estranhas formas de amar!!

Associações de pessoas com os mesmos ideias, parecem de todo inevitáveis. Embora possam vir a ser em quantidades consideráveis, todos esses grupos convergem para o mesmo fim: para a nova civilização emergente, à vista no horizonte, onde os propósitos egoísta e de exploração cruel estão ausentes, por isso, seguramente, os erros serão evitados em grande escala.

Nada pode continuar do velho mundo. A saturação chegou a um limite. O velho homem tornou-se inimigo até de si próprio, pois ainda não entendeu que sendo arrogante, egoísta e inimigo do bem comum, se tornou brutalmente criador de sociedades sem qualidade humana e ambiental, onde já não se pode viver bem.

O velho Homem, não conhece compromissos, nem consigo próprio, ignora que cada acto e cada decisão sua, ainda que seja no mais obscuro do seu viver, provoca influências, tal como a pedra atirada a um lago, provoca ondas que atingem o lago todo, até à própria margem.

O Novo Homem, conhece compromissos e honra-os, criando-os primeiro consigo próprio.

As crises da vida moderna, e na mente de cada um, exigem uma auto reflexão, um apaziguamento connosco próprios, com a vida, com os outros e com as mudanças inevitáveis á vista.

Como disse Carl Jung:
“Em última análise, o essencial é a vida do individuo. É só isso que faz a história, só aí é que as grandes transformações acontecem, e todo o futuro, toda a história do mundo brotam fundamentalmente como uma gigantesca somatória dessas fontes escondidas nos indivíduos. Em nossas vidas mais privadas e subjectivas somos não só as testemunhas passivas da nossa era, e suas vítimas, mas também seus artífices. Nós fazemos nossa própria época.”

Ricardo Matias Oliveira

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Eles comem tudo e não deixam nada...

Sacrifícios é o tema de todo o discurso político. Que bombardeiro!!!
Sacrifícios e mais sacrifícios! Impostos e mais impostos! Conversas e discursos da treta, só para nos convencerem de que o Zé Povinho, é que tem de pagar a crise! Ora esta!!!
Mas fazem de nós parvos, ou quê?
Acham acaso, que somos cegos de visão? Ou talvez obtusos, sem uma réstia de inteligência? Só pode ser isso!
Caso contrário não seriam tão descarados, eles, aqueles de quem estou a falar: os que nos estão a obrigar a pagar a crise, enquanto eles, os grandes senhores, safados e sem vergonha, não abdicam dos seus altos privilégios, subsídios chorudos e mais o que não queremos saber, porque só o que sabemos já basta.

Então, aumentam os impostos, ameaçam que o pior ainda está para vir, mas por outro lado, dizem que temos de ser positivos, ou seja, estão-nos a tramar, para não dizer outra palavra que seria a mais apropriada. Pedem-nos para sorrir, para delirar com a bola e com as telenovelas e outras palhaçadas para nos entreterem e adormecerem. Bravo! Grandes cabeças! Eles são de mais! Eles, os tais que nos estão a convencer que nós é que temos de pagar e não bufar.

Eles, os tais que nos estão a tramar, fazem boa figura em todo o lado:
São os milhões para ajudar o país A e B, que segundo dizem até estão pior do que nós!
São as festas e as festanças para fazerem uma grande figura e convencerem os parvos de que tudo anda sobre rodas (para eles, claro!)… e paga o Zé Povinho, o tal que tem de fazer todos os sacrifícios, que tem de ser o otário, para esses tais senhores continuarem a gozar connosco, à grande e à francesa, pois bem!

Pois bem, é verdade! Aumentos de salários? progressões profissionais? direitos conquistados depois do tal 25 de Abril? (a propósito de 25 de Abril, para quê festejar esta data? perguntamos nós AGORA!) Pura anedota!
Não há dinheiro, dizem eles, os tais senhores. Senhores??

No entanto, gastam-se milhões em despesas do Estado, para o conforto e o luxo dos tais senhores, que nos obrigam a pagar a crise.
Obrigam? Sim, obrigam!

A questão é, até quando?
Até acordarmos desta treta que nos querem impingir, ou seja, pensam que não temos olhos para ver que o que se gasta em supérfluo e em luxos desnecessários, dá que sobra para solucionar a crise, não sacrificando brutalmente a classe média, nem aumentando a pobreza.

Consciência? Terão os tais senhores, consciência? Enfim, veremos o desenrolar deste mar de hipocrisias…

E continuemos nós, os alvejados, o Zé Povinho, os que estamos sempre na mira desses tais senhores, por quem já não temos simpatia, continuemos vigilantes, e sempre que acordemos de um pesadelo, ou de um sonho bonito (que bom!), acreditemos que Portugal pode ser o sítio onde cada um possa ter um lugar ao Sol… a questão que ressalta é: “ELES COMEM TUDO E NÃO DEIXAM NADA…”

No céu cinzento
Sob o astro mudo
Batendo as asas
Pela noite calada
Vem em bandos
Com pés veludo
Chupar o sangue
Fresco da manada

Se alguém se engana
Com seu ar sisudo
E lhes franqueia
As portas à chegada
Eles comem tudo
E não deixam nada

A toda a parte
Chegam os vampiros
Poisam nos prédios
Poisam nas calçadas
Trazem no ventre
Despojos antigos
Mas nada os prende
Às vidas acabadas

São os mordomos
Do universo todo
Senhores à força
Mandadores sem lei
Enchem as tulhas
Bebem vinho novo
Dançam a ronda
No pinhal do rei

Eles comem tudo
E não deixam nada

No chão do medo
Tombam os vencidos
Ouvem-se os gritos
Na noite abafada
Jazem nos fossos
Vítimas dum credo
E não se esgota
O sangue da manada

Se alguém se engana
Com seu ar sisudo
E lhes franqueia
As portas à chegada
Eles comem tudo
E não deixam nada

Eles comem tudo
E não deixam nada
(Zeca Afonso)

Um Zé Povinho

domingo, 11 de julho de 2010

O lucro e a ganância do ter sobrepõe-se à felicidade do ser


No ambiente social actual prevalecem e aumentam as injustiças, desigualdades, exploração e opressão do homem pelo próprio homem. Muitos desta grande humanidade, já sentimos pulsar a necessidade de buscar a libertação, e sentimos que isso é inevitável para uma mudança urgente, porque os males impostos pelos grandes dominadores alastram-se a uma grande velocidade.

Sentimo-nos fartos de viver num mundo em que as injustiças são o selo das sociedades, sociedades programadas para se supervalorizar o ter e desprezar o ser. A pessoa é respeitada pelo que tem, e não pelo que é. Tem de ter largos milhares no banco e se apresentar com um bom carro para ser respeitada... aí tem tudo e todas as portas se abrem. Se não tem esse selo de apresentação, um bom carro de última gama e muitos milhares, mesmo sendo um cidadão honesto, tudo lhe é recusado... é um pobre coitado! Tem de se sujeitar às esmolas que os senhores do poder decidem atirar, esperando um grande agradecimento do pobre coitado...

O lucro e a ganância do ter sobrepõe-se à felicidade de ser pessoa. Fomenta-se a competição a tal ponto, que só resta aniquilar os mais fracos e mais sensíveis, negando-se a solidariedade e a criatividade.

As restrições ao pleno desenvolvimento humano são impostas de forma tão brutal, que só alguns, os poucos privilegiados socialmente, se mantém à tona da água nos seus luxuosos barcos, sorrindo para os que estão na margem.

É necessário repensar um mundo melhor, mais justo, solidário e humanizado, pois os senhores que nos governam acham-nos demasiado insignificantes e por isso nos esmagam com as suas leis desumanas e inaplicáveis num mundo realmente humano que tanto desejamos.

A história fala-nos de movimentos que se formaram para enfrentar as infindáveis dificuldades que surgem como consequencia do egoísmo e da maldade humana. Não tardará a existência de novos movimentos necessários para conseguirmos superar os problemas de cada dia, em busca da sobrevivência, em busca de uma nova sociedade.

Quem consegue viver de cabeça levantada, como exige a sua condição humana?? Se os senhores do poder adormecem a pensar no novo imposto para sugar a nossa energia!! Acordam para legislar novos impostos e novas formas de acorrentar as pessoas!!
Somos devorados por impostos e mais impostos, que sugam a capacidade de sorrir e de esperar uma vida digna.

Muitos se sentem envolvidos neste sentir e buscam a sua emancipação humana, num desejo de se libertarem das garras de tais opressores, os fazedores de impostos injustos e violentos... a nova arma para aniquilar a classe média, são os impostos a qualquer preço, já que a classe alta nada sofre e a classe pobre já está há muito na planície empestada de vampiros que não os deixa levantar a cabeça. O que importa é cobrar impostos. O bem-estar das pessoas nada importa.

Sim, devemos transformar a realidade. Como? Começando a pensar em novas formas de luta. As manifestações já não são a melhor luta, pois corremos o risco de ser espancados até à morte e será mais um que vai para a vala do esquecimento.

Paradoxo dos paradoxos, até os polícias já não podem cumprir a sua missão de defensores de gente honrada... coisa nunca vista! polícia que agrida bandido tem a sua sina lida, que é o mesmo que dizer, tem a sua vida estragada.

Já não dá para suportar este ambiente deteriorado pelos senhores do poder, que idealizaram um tipo de sociedade baseada no consumismo cruel, imposto por propaganda agressiva... e agora temos um povo acorrentado com dívidas, sem capacidade para se libertar dessas correntes...

Os senhores do poder usaram e fomentaram a ignorância, conduzindo uma população inteira para o abismo...
E agora?
Temos de pensar melhor, agir melhor... e esperar que os movimentos de libertação surjam, movimentos baseados em acções pacifistas, que restituam à sociedade os valores humanos perdidos...

Augusto Vilaverde

sábado, 10 de julho de 2010

Timor, para quando o teu despertar?


Timor,
desperta para a verdade, não te deixes enganar nem afundar na escumalha de gente oportunista que ocupa os teus espaços livres.

Timor,
Desperta, não deixes que a tua história se perca na escumalha de gente que te invadiu, que esmaga os que lhe convém por uns míseros e largos milhares de dólares.

Timor,
Desperta, pois as tuas montanhas são o jazido de muitos dos teus heróis, valentes guerreiros, que abençoaram os seus filhos com o exemplo da sua honra.

Timor,
Desperta, porque as flores necessitam do teu despertar para voltarem a florir e embelezarem nas noites intermináveis, as sepulturas dos que desapareceram em momentos de traição.

Timor,
Desperta, porque é triste nascer em Timor, e não poder fugir das mãos dos traidores.

Se não despertares, Timor, só nos resta desaparecer, chorar nas montanhas, quando a alma assim o exigir e esperar que os traidores caiam no buraco que eles próprios prepararam para te afundares.

Mertuto

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Honestidade que nos devolva a liberdade

Ser honesto é algo que não faz parte da classe política actual, a tal classe que promete só para granjear votos de poder… um poder que abriu portas à construção de sociedades assentes sobre quatros pilares: consumismo, oportunismo, competição e corrupção levados aos extremos.

Classe política que abriu portas ao roubo de algumas conquistas sociais justas, que põe todos no mesmo saco, e à semelhança dos campos de concentração, com requintes de modernice, nos suga e chicoteia, à semelhança dos carrascos desses outros campos de concentração.

O pior de tudo é que no actual meio social, não humano, existe muita gente a imitar esta classe política, e por tal razão, passamos a observar a globalização da exploração do homem pelo homem, sendo o mais forte a aniquilar aquele que supostamente é mais fraco.

Mas, no mundo dos humanos ainda existem histórias que, acreditamos serem reais, nos fazem sentir mais humanos e nos fazem acreditar que um dia voltaremos a ser felizes, sendo honestos…

A história que se segue fala de uma honestidade fantástica, contada por Vladimir, jovem prisioneiro de um campo de concentração.

Vladimir tinha um companheiro de prisão chamado Andrey.
Ambos sabiam que daquele lugar poucos saíam com vida, pois o alimento que se dava aos prisioneiros políticos não tinham por objetivo mantê-los vivos por muito tempo.
A taxa de mortalidade era extremamente alta, graças ao regime de fome e aos trabalhos forçados. E como é natural, os prisioneiros, em sua maioria, roubavam tudo quanto lhes caía nas mãos.

Vladimir tinha, numa pequena caixa, alguns biscoitos, um pouco de manteiga e açúcar – coisas que sua mãe lhe havia mandado clandestinamente, de quase três mil quilômetros de distância. Guardava aqueles alimentos para quando a fome se tornasse insuportável. E como a caixa não tinha chave, ele a levava sempre consigo.

Certo dia, Vladimir foi despachado para um trabalho temporário em outro campo. E porque não sabia o que fazer com a caixa, Andrey lhe disse: deixe-a comigo, que eu a guardo. Pode estar certo de que ficará a salvo comigo.
No dia seguinte da sua partida, uma tempestade de neve que durou três dias tornou intransitáveis todos os caminhos, impossibilitando o transporte de provisões. Vladimir sabia que no campo de concentração em que ficara Andrey, as coisas deviam andar muito mal. Só dez dias depois os caminhos foram reabertos e Vladimir retornou ao campo.

Chegou à noite, quando todos já haviam voltado do trabalho, mas não viu Andrey entre os demais. Dirigiu-se ao capataz e lhe perguntou:
- Onde está Andrey?
- Enterrado numa cova enorme junto com outros tantos prisioneiros – respondeu ele. Mas antes de morrer pediu-me que guardasse isto para você.

Vladimir sentiu um forte aperto no coração.
- Nem minha manteiga nem os biscoitos puderam salvá-lo, pensou.

Abriu a caixa e, dentro dela, ao lado dos alimentos intactos, encontrou um bilhete dizendo:

“Prezado Vladimir. Escrevo enquanto ainda posso mexer a mão. Não sei se viverei até você voltar, porque estou horrivelmente debilitado. Se eu morrer, avise a minha mulher e meus filhos. Você sabe o endereço. Deixo as suas coisas com o capataz. Espero que as receba intactas.”

Ser honesto é dever que cabe a toda criatura que tem por meta a felicidade.
E a fidelidade é uma das virtudes que liberta o ser e o eleva na direcção da luz.
Uma amizade sólida e duradoura só se constrói com fidelidade e honestidade recíprocas. Somente as pessoas honestas e fiéis possuem a grandeza de alma dos que já se contam entre os espíritos verdadeiramente livres.

Manuel Coelho

sábado, 3 de julho de 2010

QUIÇÁ UM SILENCIO CALMO...

Somos parte de um todo e como parte desse todo, alguns manifestam já uma descrença profunda relativamente a uma classe politica, de caris ilimitadamente ambicioso. Por tal razão, começamos a ouvir sussuros de revolta sadia, gritos silenciosos buscando algo que nos liberte, sem saber bem o que nos irá libertar.

Quiçá um silêncio calmo, um nada fazer, talvez uma espera depois de desacreditar os discursos e os sermões, que nos agridem pela componente da mentira desavergonhada.

E depois, despertar. Buscar uma ética perdida no tempo, onde, em tempos que já lá vão, a palavra era Lei, era acreditada só por ser palavra. Quem não se lembra da “Palavra de honra”!

Hoje, ser político é não ter “Palavra de honra”, portanto, não respeitar a palavra proferida, transformá-la em promessas falsas, isco para caçar os votos de pessoas que se deixam enganar e embrutecer pela máquina da propaganda.

Há uma nova dominação na Terra, esta classe política agressiva e bruta, que nos conduziu ao estado actual das coisas, que veste pele de cordeiro, e engana descaradamente, usando os mais sofisticados meios de publicidade para construir e manter torres de poder.

Já não é mais possível sentirmo-nos separados de uma humanidade agredida por alguns exemplares, que se julgam superiores a todos e que atiram para a valeta aqueles que são diferentes, ou que não reúnem condições para fazer parte de grupos cruelmente montados para transformar as pessoas em máquinas competitivas, profundamente desumanas que empurram os mais fracos para a marginalidade e a pobreza.

É necessário retornar a um silêncio calmo, talvez um nada fazer, talvez uma espera e depois encararmos com coragem os desafios de uma nova ética sadia, que inclua a obrigação moral de respeitar e abrir portas para uma vida mais humana e mais digna, onde todos tenham o seu lugar ao Sol, porque Este quando nasce é realmente para todos, só não é para aqueles que lhes fecharam as portas.

Na verdade o meu pensamento e o de cada pessoa formam um só tecido, um tecido que se rompeu grosseiramente, que perdeu a unidade das linhas que se deveriam cruzar harmoniosamente.

É esse tecido humano, rompido grosseira e intencionalmente, que temos de reparar.

Puseram-nos uns contra os outros, transformaram-nos em máquinas de consumo, roubaram-nos o humanismo, injectaram dentro de nós o pior inimigo: o ruído da propaganda, o ruído das vozes mentirosas que se instala em cada vazio do nosso ser, castrando-nos o silêncio e o próprio ser.

Quiçá um silêncio calmo, um nada fazer, um despertar da inteligência nata e observar até onde as palavras falsas e as acções demolidoras dos novos opressores conseguem ir...

Vemos-nos obrigados a novas atitudes, a novas reflexões, a novos conceitos, a desejar uma nova ética que devolva aos humanos os seus direitos e as suas obrigações... humanos, que cada vez mais são atirados para a margem, dando lugar a uma nova raça, a dos “espertos e oportunistas”.

Nova raça que renega uma humanidade sadia e justa, que aplaude os opressores, que é surda e insensível perante a dor dos oprimidos, daqueles que iniciaram já a busca de uma nova ética que contenha nas suas linhas o retorno ao humanismo e ao direito de nos libertarmos de pessoas que erróneamente se dizem avançadas, mas nada mais fazem do que explorar o seu semelhante.

O consumismo brutal, criado por este sistema, fabricante de mentalidades doentias, base de abrigo para os opressores sem escrúpulos, está a transformar as pessoas em não-seres, em escravos sem vontade própria, em máquinas sofisticadas de desejos insaciáveis.

Uma nova ética que não dê abrigo ao medo, que diga a verdade sobre os políticos, aqueles que nos falam de uma falsa ética, injusta e privada, e que perpetuam este sistema viscoso, peganhento, que sentimos na pele, e que começa a despertar sentimentos de repelência.
David Simões

quinta-feira, 1 de julho de 2010

OPRIMIDOS

O comprometimento com a vida, tem de ser a ideia fundamental dos novos oprimidos, que estamos a ser.
Pensar a nossa existência em dignidade e valor e termos consciência do nosso papel humano, influente acima de tudo, e libertador...
O medo da liberdade está patente em nós, temos medo de pensar bem e de agir em conformidade. “Não penses” é o que ouvimos vezes demais.

A luta pelos direitos humanos, pelo trabalho livre, pela afirmação dos homens como pessoas, foi uma luta que só começou porque a desumanização se instalou insensivelmente nas sociedades, tendo como resultado uma "NOVA ORDEM MUNDIAL", injusta, que gera a violência dos opressores e dos oprimidos.

A violência dos opressores torna-os desumanizados, mas leva também os oprimidos a lutar contra quem os faz menos pessoas, contra quem lhes rouba os direitos que levaram gerações a serem conquistados.

A luta contra os opressores só fará sentido, se a mesma for uma busca do humanismo perdido, uma tarefa libertadora, cuidando para não virarmos também opressores, atentando para uma verdadeira libertação, a dos oprimidos e opressores, estes últimos vítimas da sua grande e egoística ignorância humana.

Na sociedade global violenta, os opressores, egoístas por natureza, constroem a desumanização intencional. Depois, aparecem camuflados de falsa generosidade, de caridade humilhante, em que o homem é tratado como uma “coisa” a quem se atiram umas migalhas para calar essa “coisa” que anda, fala, dorme, trabalha e reproduz-se.

Na busca de libertação, vemo-nos perante sofisticados opressores, donos do saber, impondo habilmente que sejamos meros ouvintes e executantes passivos, e que acreditemos que nada sabemos.

Ora, a libertação do oprimido, que somos actualmente, devolve-nos a vontade de reconquistar a dignidade de podermos interagir, de podermos aprender e simultaneamente partilharmos o saber adquirido com o tempo, sermos ouvidos e respeitados.

Conquistar terreno fértil, onde possamos compartir experiências, ao invés de aceitar cegamente as novas metodologias que inviabilizam uma sociedade mais próspera e humana, onde possamos, através da crítica construtiva e do diálogo sem medo, descobrir a humanização necessária ao desenvolvimento e à felicidade dos povos.

As elites dominadoras são arrogantes por natureza e desumanas, ignoram intencionalmente que a pessoa é o centro da transformação do mundo. Semeiam divisões, pois sabem que a união é o elemento indispensável a qualquer acção libertadora.

E por assim ser, as elites dominadoras, os tiranos, promovem e reforçam a sua unidade, organizam-se à volta dos grandes interesses do poder e do dinheiro, para formarem uma torre de poder esmagadora.

Desmistificar a realidade é o primeiro passo para libertar as pessoas da ilusão e da mentira, mas é algo contrário à vontade dos opressores, elite dominadora, por isso mentem, dando um falso conhecimento de si mesmos e da verdadeira face social, impedindo assim a transformação desta sociedade injusta em que temos de viver por necessidade.

Uma sociedade, paradoxalmente, cada vez menos dividida, estando os privilegiados de um lado, egoisticamente trabalhando contra a maioria dos des-privilegiados, do outro lado, impedindo que esta maioria usufrua das riquezas, incluindo da riqueza da educação, da riqueza de uma saúde estável e consciente e do bem-estar humano.

Tanto mais haveria para compartir, mas fico-me por aqui, numa atitude de consciência reflexiva…

Acrescentando que, se as pessoas se humanizarem, se trabalharem juntas, farão deste mundo, um sítio ideal para vivermos em liberdade e respeito. Utopia? Que o seja… mas consciente de que é uma utopia realista…
David Simões